sábado, 12 de setembro de 2009

Action!

Quero o meu direito a usufruir do mito.

Ainda tenho muitas crónicas no bolso. Que é como quem diz que existe uma quantidade infindável de palavras enleadas em pensamentos mais ou menos soltos, estados de alma que ficaram por exprimir ou ideias por explorar. E é a verdade mais pura e crua que nem sequer tive qualquer pretexto válido para este silêncio nem para não tocar tão prolongadamente nas crónicas. É assim, é assado, é frito e cozido: podia dar as justificações que quisesse, mas a questão é que grande parte das coisas que fazemos ou nos acontecem não passam de simples acções nonsense às quais tentamos dar algum sentido.

O que por sua vez me leva a perguntar: porquê esta tendência para ver as coisas de um ponto de vista quase narrativo então? Porque é que, por exagero, graça ou só por pensar demais, damos a certas ocorrências da vida um carácter quase épico? E, contudo, torna-se por vezes irresistível não o fazer. Daí que me sinta agora numa dessas fases.

Admito, a culpa é minha - minha e de algumas pessoas como Miss H. que compactuam com esta mesma forma de pensar: que uma série de acontecimentos e pequenas mudanças caminham só e irremediávelmente em direcção a um ponto fulcral de viragem. Que todos esses esforços e tensões (acumulados e agravados por exames, importantes decisões e cansaço) ou apenas longos momentos de entediante indiferença só se podiam reverter com algo novo. Um momento.

Este. No meu caso, o saber os resultados de entrada na Universidade.

Portanto sim, é tudo minha culpa. Eu criei um mito e sustentei.me nele, na crença que teria de encarar isto como uma série de etapas: primeiro, arrumar as coisas que tinham de ser arrumadas e fazê.lo num espaço com pouca manobra para erros; em segundo lugar, agir de forma decisiva e irreversível, algo tão angustiante quanto deliciosamente confortante mal escolhi o que queria e entreguei aquela candidatura de consciência limpa. De repente as coisas tornaram.se claras, serenas e depois.. foi só aguardar - até agora.
E uma vez chegada à meta final do meu mito (que só agora vai dar lugar a uma corrida muito maior, esta bem real e a sério) só quero poder celebrá.lo como tal.

Bolas, afinal entrei no curso que escolhi em primeiro lugar. No que queria e com margem para tal!

Por isso, nonsense ou épico só sei que quero a minha legitimidade para gozar este curto período, cantar alto e (caso ninguém esteja a ver) dançar. Para ouvir a minha lista de músicas feel good mood e de bicho carpinteiro sem me importar. Para dizer que marquei um ponto final e iniciei algo novo. Porque no final é disso que se trata: não de acabar o liceu ou de entrar na universidade mas de ter de recomeçar e jogar com novas regras.

E se quisesse de facto usar uma justificação mais épica, diria que não há melhor forma para quebrar um longo período acções suspensas como iniciar um relato com uma notícia destas.

[Os Beatles na fotografia]

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