segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A importância de fazer o Ernesto

Está na hora. [Nada mais me vem à cabeça senão todos estes vários acontecimentos isolados que estranhamente têm se encaixado num plano superior e estranho. Todos juntos apontam para a mesma coisa ou pelo menos para a mesma mensagem. Asseguro.vos que a irão descobrir ao longo destas tortas linhas.]

Há dias conheci o novo "namorado" de uma das minhas amigas de infância. X chama-se ele. É um rapaz alto e magro. Cabelo meio desgrenhado, pelos ombros de um castanho meio claro. Barba de dois dias. Olhos brilhantes e sorriso sempre pronto. Portador de um género muito próprio. Daquele que para nós é querido e original e para ele normal e rotineiro, banal até. Ao longo da noite pude descobrir outras características como o seu sarcasmo, inteligência e sentido de humor. Gosta de danças de salão não de tecno ou transe. Deu uma nota de 10 euros para pagar uma viagem de 5 e ia-se embora sem troco. Sem fantasiar ou extrapolar, este rapaz, inexistentes leitores, é em metade (senão mesmo totalmente) a personificação do tipo de rapaz que passeia nas paredes invisíveis do meu imaginário.

O mais curioso é que a minha amiga em questão em nada se assemelha com ele. Quando me dava as pistas iniciais sobre o rapaz apressou-se a assegurar-me que não teria nada de sério ou que não ia assumir nada de muito complicado, embora estivesse apaixonada. Sim ela está apaixonada, a pobre coitada. Apaixonada, não embeiçada ou engraçada.
São diferentes e moram a pelos menos 5 países de distância. Razões perfeitamente válidas e justificáveis para a sua racionalidade. Mas então se é assim porque é que ela resolveu aceitar esta experiência? Porque é que o deixou vir ter com ela a Lisboa se depois a despedida será muito pior? Para quê 5 dias solarengos, regados de passeios e beijos se depois no final da semana as lágrimas são mais que garantidas?

[Porque vale a pena. Vale sempre a pena. Sempre.]

A impressão ou "comichão" que me fazia antes ao vê-los juntos, agora dissipou-se. De repente percebi: sim é verdade que em nada são parecidos e sim também é verdade que dava tudo para ter um rapaz assim ao meu lado e que, em surdina, me sinto um pouco, ok muito, injustiçada. Afinal de contas das três amigas eu sou a mais intelectual, sou a que mais me esforço para saber mais ou para encontrar algo ou alguém onde me sinta realmente identificada e assim do nada ela aparece junto a mim com um rapazinho daqueles. É claro que sinto algo. Não sou de ferro. Mas também assumo que o sinto e não torno essa sensação agridoce em algo negativo. Não.
Ela mereçe, disso não tenho dúvidas. Tudo isso não deixa de ser verdade mas se virmos bem o que ela está a sentir, já eu senti...no verão passado. Confesso que não sentia nem metade do que ela sente por ele mas conseguia sentir-me feliz, diferente, adulta mas acima de tudo mais liberta.

E lá está ela deu-lhe algo que eu ainda não lhe podia dar, o que nos leva à segunda questão. E por isso mesmo sinto-me uma tola, uma idiota e atrasada.

"-Não existem príncipes encantados."
"-E julgas que eu não sei?"
"-Sabes perfeitamente que tens um ritmo diferente. É assim mesmo e não vais morrer por causa disso. Cada um é como é."
"-Sim, sim..."
"-Agora também não podes ser niquenta ou esquisita."

[Obrigada pai, fizeste-me sentir muito melhor.]

"-Mas que mania é essa de eu ser niquenta? Eu não sou assim! Bolas!" (É que não sou mesmo!)

Deviamo-nos auto-congratular por sermos cidadãos de uma sociedade significativamente aberta em que o sexo é tratado como uma banalidade (às vezes até demais). Um sociedade que prima, na generalidade, pela informação e planeamente familiar. Uma sociedade que aceita de braços abertos jovens ainda virgens. É quase grandioso. Obrigada Senhor! Mas se tudo isso acontece porque raio me sinto, mais do que nunca, pressionada para o deixar de ser? E não sou só eu, acreditem. É lixado.

E aquela sensação estranha de atraso insiste em aparecer por muito alta que esteja a música.
A questão é: se somos assim tão diferentes e especiais, tão fieis enquanto amigas, responsáveis enquanto filhas e aplicadas alunas e mais uma caixa de cartão cheia de palavras bonitas porque raio não merecemos um rapaz "porreiro" como prenda?
A sério. É que não faz sentido. Nenhum. (Tal como este estúpido texto que em nada contribuí para este blog.)
Mas sabem...ás vezes consigo sentir-me muito mal. Tento acreditar e convencer-me que é assim mesmo que as coisas são e que cada um é como é. Que quem tiver de aparecer simplesmente ainda não apareceu. Mas que irá aparecer.
E se isso não for verdade? Se de repente ao toque de umas palavras mais ríspidas não me vejo realmente tal como sou: uma daquelas miúdas de camisa de noite com o dedo na boca e com o urso preso na outra mão à procura de algo enquanto chucha pacificamente no seu pequenino dedo.


*


Tudo isto, perguntam-se vocês, para quê? Para nada ou para tudo. Escolham. Para mim era urgente. Tinha de tirar todas estas frases encadeadas em raciocínios estranhos da minha mente senão não iria aguentar até ao final da semana. Agora e atenção não confundão este post que é um desabafo desajeitado com um discurso "uh-não-gosto-de-mim-porque-ainda-não-tive-sorte" ou algo "Libertem os virgens!".

Um bem haja bem escondido...

[na foto: Clark Gable e Claudette Bernard numa cena do filme "It Happened One Night" de Frank Capra. Vale mesmo a pena ver até porque percebem o porquê desta imagem]

1 comentário:

  1. mais uma vez a notável capacidade de exprimir uma ideia tão estranha mas ainda assim tão familiar e profundamente genuína! como se vai tornando hábito, não podia concordar mais. *

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