segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Dói tanto...


Hoje sonhei com o meu avô. Não me lembro do sonho na íntegra mas foi intenso. Ao longo do dia fui.me lembrando de partes muito definidas. As cores, as frases, os gestos eram muito claros. Acho que andava tudo à volta do "Não se preocupem que estou bem". Bem, a causa desta manifestação inconsciente deve ter sido as saudades do meu irmão ontem à noite e ver o Michael Douglas na sua antiga glória, Gordon Gekko. Não sei que vos diga. Há coisas assim, há dias assim. Na véspera do dia dos meus anos, esse sim, em que as saudades gritavam e se tranformavam em soluços silenciosos e chorosos. A saudade dói tanto. Mas tanto, meus queridos. É horrível.


Mas posso explicar.vos como funciona, mais ao menos:

Há dias em que se sentem fortes, capazes de tudo em que a saudade nem existe e tudo aquilo em que pegamos é com vigor. Somos capazes de comer o mundo. Andamos na rua a cantarolar aquela musiquita a levar com o vento na cara e a sorrir para estranhos. Basta.nos o passe num bolso, o ipod no outro e o caminho já está feito. Imaginam as várias possibilidades no vosso futuro. "Para onde poderei ir?" perguntam-se. "Giro, giro era mesmo Londres ou Paris. Sim, porque não Itália?". O céu é o limite. Mas depois, sim o "mas" é tramado, há aqueles dias em que até estamos bem dispostos e o dia parece correr bem. Mentira. Está tudo errado e à primeira lembrança esforçam.se para fazer cara forte. Ficam mal.dispostos. Têm umas dores cabeça estranhas. Sentem-se subitamente cansados, sem ânimo. Estagnam bem lá no fundo apesar de continuarem a andar, a apanhar o 28 ou a ouvir música. O silêncio é a vossa sanidade. Tudo está normal, tudo parece normal. Mas basta uma chamada. Basta atenderem o telefone que as palavras fazem o resto. E aqueles copos de cristal olimpica e higienicamente bem arrumados naquela prateleira tão bonita e limpinha estilhaçam com tanta força que é um chuva de vidro. Protegam os olhos. Protegam a cara. Protegam o coração. A partir daqui, só vos resta chorar. Pegar nos óculos escuros e soluçar. Dói tanto. Oh se dói. Doeu.me tanto, mas tanto. Era quase como um buraco negro que em vez de me puxar para baixo, doia. Sentia.me tão triste como se tivesse encontrado um ponto nevrálgico de dor mas em vez de física, era psicológica. É inexplicável. [não vos consigo explicar melhor].


A ausência é cruel e impediosa. O problema é quando ela dá as mãos à saudade. Aí sim, aí não há misericórdia para ninguém. Nada. Ninguém. E foi assim que me senti na véspera do meu dia de anos. Aquela pessoa que já lá não está para ver o que já consegui, o que já conquistei. Aquele telefonema que não ia receber. Aquele sorriso que já não ia ver.


Quando se começa a pensar assim, por muita força que se tenha, é muito difícil voltar atrás. O único caminho é libertar tudo o que é preciso e depois quando estivermos mais restabelecidas, aí sim, seguir em frente.


Palavra de amiga*




[Carey Mulligan. Gosto muito desta miúda e especialmente desta foto]

1 comentário:

  1. O que muita gente não sabe é que o pior do sofrimento não são as lágrimas mas sim essa espécie de vazio corrosivo.
    O tempo ajuda, não o apaga, mas ajuda *

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