quinta-feira, 29 de março de 2012

Dat Rain



Eu sou aquela besta que após vários meses de seca em Portugal,  ficha chateada por chover durante toda a semana de páscoa. 

Billy Knight na imagem, porque também precisávamos de cor neste blog!

terça-feira, 27 de março de 2012

O (delicioso) culto da trivialidade



Cada vez que aqui venho torna-se quase como entrar num velho quarto, meio empoeirado, mas que traz consigo uma boa sensação de familiaridade e de casa quando realmente me demoro. Essa sensação interessa-me particularmente e dou por ela de forma inesperada e nas mais pequenas coisas. Por exemplo o que me motivou a escrever neste preciso momento (e a sair um pouco do marasmo do meu silêncio e do sono que me ia apanhando), foi uma boa chávena de chá quente nas mãos, os acordes do piano de uma música que tanto me fez companhia que já quase a esquecera e, estranhamente, os apontamentos sublinhados ao meu lado.

Não me perguntei porque é que apontamentos sublinhados me dão também algum conforto deslocado mas a verdade é que sinto que, nestes últimos anos, tudo o que passa por mim é passageiro e filtrado por um ecrã. Os ecrãs dão-nos o espaço quase infinito e deles já não nos separamos (não fosse o paradoxo de estar a escrever para um agora), mas são frios e não transportam consigo aquela pequena beleza frágil e o universo táctil do papel. No papel sinto que não só me posso demorar como também sou convidada a faze-lo, a mergulhar um pouco mais fundo e não apenas raspando a superfície - mesmo que o papel em causa seja algo tão banal como fotocópias de trabalho a ler (e o apontamento mental que deveria estar a fazer uma recensão crítica e não isto; mas acho que no fundo ambas se ajudam mutuamente).

Coisa estranha esta da familiaridade do trivial, é um sentimento que me atrai cada vez mais pela sua singularidade. No outro dia ocorreu-me que a verdadeira cumplicidade é como “voltar a casa. Fiquei a saborear ainda durante algum tempo esta ideia, porque realmente sabe bem voltar a casa. Seja por um delicioso reencontro e conversa posta em dia (tão bom e essencial nas pequenas coisas), pelo abraço/conforto/equilíbrio pleno do fim de tarde ou pelo meu serão de fim de tarde com chá quente, música redescoberta e apontamentos em papel. Eis o meu pequeno momento de culto pelos momentos triviais que também o merecem de vez em quando em voz alta.

Isabella Rossellini na imagem.

segunda-feira, 12 de março de 2012

E aqui permaneço.


É estranho. Tenho pena mas mais vale escrever sobre isso, afinal de contas sempre tenho algo com que preencher este blog quase em coma visto que as vossas cronistas não têm tempo para nada. Tenho pena que tenha perdido o hábito de escrever aqueles textos descritivos onde cada momento que passava era dissecado até ao mais ínfimo ruído, até ao sabor mais escondido, até à pessoa mais alheada de tudo. Era uma escrita quase cinematográfica, confesso. Mas era realmente boa porque me dava prazer. Pode ser que com o passar do tempo lá volte. Dêem-me tempo. Esse mesmo tempo que nos afastou, que me afastou de ti e te afastou de mim. Deixa que não és a primeira pessoa e não serás certamente a última. Devia deixar, não ligar mas é me quase impossível porque me entristece em parte, porque não faz sentido, porque, acima de tudo, é um lugar que já não reconheço, traços já estranhos, gestos perdidos.

É o que é. Nada há a fazer. Depois da pena, resta-nos o indiferente encolher de ombros e sorriso cordial quando nos cruzamos. De qualquer das formas, para que saibas, estarei sempre aqui pronta a revisitar os nossos lugares, a recuperar os nossos traços e a recriar os gestos porque, apesar de também me ter afastado em parte, não me esqueci de nada.

E, aqui permaneço.


[the sweet Carey Mulligan]

sábado, 10 de março de 2012

time and space are (god damned) relative





Eu sei que a minha relação com o tempo é tudo menos pacífica (na verdade é uma saga épica com direito a explosões em câmara lenta e lutas com sabres de luz) mas porque é que para conjugar estes dois aspectos é precisa uma ginástica sempre tão rebuscada?

Katherine Hepburn por Richard Avendon na imagem.